sábado, 6 de setembro de 2014

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Salão de Caricatura de Piracicaba – 40 anos

* por Edson Rontani Júnior, jornalista

   O ano era 1974. O cenário era a Casa de Artes Plásticas de Piracicaba. Ali, ocorria, no período de 22 de junho a 7 de julho, o 1º. Salão de Caricaturas de Piracicaba. A ideia partiu do artista plástico Edson Rontani, então com 42 anos. Havia sido planejada no primeiro semestre do ano anterior. A intenção era reunir desenhos que ele mesmo expôs de 1970 a 1974 na Galeria Brasil, situada ao lado da Livraria Brasil, no Edifício Georgeta Dias Brasil. A mostra teve sequência com outras duas edições, realizadas nos anos posteriores.
   A Galeria Brasil era um ponto de passagem do piracicabano. A população se encontrava para rever amigos, para namorar, para passear no entorno da praça José Bonifácio e para ver as vitrines do comércio situado na rua Governador Pedro de Toledo. A região funcionava como um Shopping Center da atualidade. Tinha cinemas (Broadway, Rivoli, Politeama e Colonial), gastronomia e boemia (Daytona, Bar do Bule e o Supermercado Guerra, além das guloseimas do seu Passarela), informação (O Diário, Jornal de Piracicaba, Rádio Difusora, Rádio Alvorada e Rádio Educadora), além de pontos religiosos (Catedral de Santo Antonio e Igreja São Benedito). Tudo isso motivava o piracicabano a procurar o “Centro” da cidade para seus afazeres sociais, numa época em que ainda respirava-se o susto com a queda do Edifício Luiz de Queiróz, o Comurba, cuja derrubada total ocorreu em 1971.
   A cultura tinha sua representação nesta região em que seus expoentes circulavam e sentavam nos bancos da praça para jogar conversa fora. O Hotel Central ainda fazia parte do cartão de visita da cidade.
   Rontani expôs, de 70 a 74, o “Mural”, cartolinas onde desenhava charges, cartuns e caricaturas com os temas da época. Dentre os cartuns, desfilavam os candidatos a prefeito, personalidades artísticas, além do Nhô Quim, mascote do E. C. XV de Novembro. Ele tinha acesso a um quadro de madeira, com uma tampa de vidro, situada logo no início dos expositores da Livraria Brasil, Estes expositores eram pequenas vitrines nas quais eram colocados - para deleite do consumidor - produtos a venda como livros, material escolar e artigos de época (Páscoa, Carnaval e Natal).
   Nestes quatro anos, Rontani colecionou boa parte dos acontecimentos sociais, retratando através do nanquim aquilo que era visto pelos jornais e ouvido pelas emissoras de rádio. Destas obras, saiu a ideia de uma coletânea que recebeu o aval do poder público para ser exposta na Pinacoteca Municipal, na época talvez o único ponto de exposição artística do município. A Casa de Artes Plásticas era ligada à Coordenadoria de Educação, Saúde e Promoção Social, a qual tinha como titular Antonio Oswaldo Storel. O diretor era Angelino Stella.  De 22 de junho a 7 de julho o espaço abrigou cerca de 40 trabalhos de Rontani. Foi uma quebra de paradigmas, pois a Casa de Belas Artes era destinada apenas à telas a óleo e esculturas.
   Um ano mais tarde, de 12 a 20 de julho, o 2º. Salão de Caricaturas de Piracicaba, apresenta os trabalhos de Rudinei Bassete, sobrinho de Rontani, a quem inclinara seguir nas artes gráficas. Rudinei tinha 15 anos de idade e considera, hoje, que os trabalhos, eram puramente ingênuos. Mas não há de se negar que suas obras serviram para cutucar a ordem social de então. Bassete concluiu, anos mais tarde, a graduação em Engenharia Civil, e presidiu da EMDHAP (Empresa Municipal de Desenvolvimento Habitacional de Piracicaba) nas gestões Mendes Thame (1993 a 1996) e Humberto Campos (1996 a 2000). Foram 50 obras expostas.
   Na sequência, Rontani organiza o 3º. Salão de Caricaturas de Piracicaba, entre os dias 10 e 24 de julho de 1976, de novo na Pinacoteca Municipal. Nesta ocasião, o Salão conta com obras do próprio Rontani, do mestre Renato Wagner, Rudinei Bassete, Rol e Clew (pseudônimos utilizados pelo próprio Rontani). Foram expostas reproduções de Belmonte, em comemoração aos 80 anos do nascimento do cartunista que criou o personagem Juca Pato, veiculado no jornal A Folha da Manhã.
   Nesta ocasião, a equipe da Rede Globo, Canal 5, foi recepcionada pelo diretor da Pinacoteca professor Flávio Moraes de Toledo Piza para gravação das exposições que ali se encontravam, a qual foi apresentada no jornal Hoje, no dia 13 de julho. Esta foi a última mostra do Salão de Caricatura de Piracicaba.
   Parte deste material foi preservada. Estuda-se uma retrospectiva em 2015 junto à Secretaria Municipal de Ação Cultural. Para resgatar a iniciativa, encontra-se na internet o site www.salaocaricaturapiracicaba.com.br cujo objetivo é relembrar este pioneirismo dos cartuns e das caricaturas locais.



Adilson Benedito Maluf é eleito prefeito de Piracicaba em 1972, como sendo o mais jovem dos candidatos. Ele é erguido por Jorge Angeli e Bento Gonzaga, em charge de Edson Rontani.



Dr. Domingos Aldrovandi, do Hospital Fornecedores de Cana de Piracicaba, retratado por Renato Wagner



Zagallo, técnico da Seleção Brasileira de Futebol nos anos 1970 é caricaturado por Rudinei Bassete