DEPOIMENTOS

   Piracicaba, inspirada pelo alvoroço cromático do Salto, é uma cidade que se esmera no cultivo da arte.
   Sempre se distinguiu através das letras, dos versos, do pentagrama.
   No tocante à pintura, vai longe.Os nomes dos coloristas piracicabanos avultam em ressonância nos amplos horizontes do país.
   Não obstante, pouco tem apresentado,na arte do lápis, do que mestre Bordallo Pinheiro, em Portugal; em que foi grande J. Carlos, no Rio; em que imortalizou Belmonte, em São Paulo.
   Por volta de 1917, quando Piracicabaem sadio idealismo, empenhava-se no campo cultural, com uma braçada de inteligências - Sud Mennucci, Léo Vaz, João Silveira, Tales de Andrade, Breno Ferraz, Jacozinho Dihel , Pedro Kraehenbuhl, Fabiano Lozano, Benedito e João Dutra e Erotides de Campos. - um rapazinho se revelou, cheio de humor, no lápis - João Batista Pfhul. 
   Pouco pôde fazer, no entanto. Morreu na flor dos anos. Uma inteligência que se apagou. 
   Agora, quatro decênios decorridos, um piracicabno ensaia vôo nesta modalidade artística. 
   É esse moço alto, quietarrão, andar vagaroso, olhar concentrado na ponta do nariz - Edson Rontani. 
   Edson tem arte. Auto-didata, fez-se senhor do lápis sem se afastar do círculo visual piracicabano. Traços desembaraçados, expressivos, contundentes e de aguda personalidade.

   ELIAS DE MELLO AYRES - Jornal de Piracicaba - reproduzido no livreto de apresentação do 1º Salão de Caricatura de Piracicaba, 1974.

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   A caricatura ou, mais exatamente, a "charge" é sem dúvida, um dos pontos mais fortes de Edson Rontani. Seus trabalhos nesse campo tão difícil, em que foram Belmonte e Sterni, contam-se aos milhares e não poucos aqueles que se apresentaram omo obras de verdadeiros mestres, seja na segurança dos traços, seja na graça ou na expressividade da concepção. Pode ser que muita gente não medite no valor de suas produções mas tenho certeza de que ninguém deixa de notá-las, de apreciá-las e de admirar o autor.
   Fora da caricatura, ou da "charge", porém, Edson Rontani é também um curioso infatigável que, quase diariamente, enche de graça, de novidades, de informações interessantes, variadíssimas e até de cultura amena e desprenteciosa as páginas de nossa imprensa. Neste último item, por exemplo, ele publicou, não muito tempo, uma bem lançada pesquisa das "histórias em quadrinhos", digam de maior divulgação pelos ensinamentos e dados informativos que encerra.

   JOAQUIM DO MARCO - O Diário de Piracicaba  - reproduzido no livreto de apresentação do 1º Salão de Caricatura de Piracicaba, 1974.

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   Sempre que dizemos ter admiração por uma pessoa, somos instados a responder porque. É, então, que a gente se embaraça todo, joga os braços para o ar e fez a pergunta : "por quê?".
   Agora, no entanto, eu me sinto a vontade. Não preciso ir muito longe para dizer e que penso no Edson Rontani e porque o admiro. Pois a coia mais fácil e agradável do mundoé falar de idealismo. E esse moço Rontani nanda mais é do que um nobre idealista.
   O primeiro contato que tive com Edson foi no Colégio Dom Bosco, assim muito de passagem, já que não fomos colegas de classe. E me lembro de seu ar sonhador, fitando sempre um vago indefinível, parecendo alimentar-se de coisas etéreas. De lá para cá, não tivemos muitos contatos. E penso ter sido melhor, já que assim me sinto mais à vontade para dizer o que penso dele.
   Conheço o eco de suas passadas. A sua luta surda em prol de seu ideal. Seu amor pela pintura, pelo radialismo, pelas histórias em quadrinhos. Parece-me que o Edson vive da arte para a arte. É um colega que, agora, aqui se encontra ao meu lado, me afirma que nos tempos de Grupo a criança Rontani vivia a desenhar. Aviõezinhos, barquinhas. Esboçava-se, então o artista.
   Foi crescendo. E aí está, espigado, magrão, cabelos românticos. Ainda sonhador.
   Belo sonho o seu, Edson. Que nos orgulha, que nos envaidece. Porque você é bem o representante de uma elite nova que sabe o que é um ideal e como viver por ela. Essa luta que você trava sozinho é um símbolo. Parece temperada pelo aço que força as grandes almas. Na placidez de seus olhos, percebo o desprendimento que é privilégio dos artistas.

   CECÍLIO ELIAS NETO, em "O Diário de Piracicaba"

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